terça-feira, 18 de maio de 2010

Hoje ...


Hoje estou desatando da memória as imagens de amor.As minhas, as nossas imagens de amor,porque as coisas são como são:no momento em que escrevo e no momento em que você lê,abrimos esses arquivos de imagens geradas a partir do amor, que são- vamos admiti-lo antes que seja tarde,- os nossos arquivos prediletos.Tudo o que realmente nos interessa está arquivado ali.Na câmara escura das nossas recordações.Imagens que vamos recolhendo vida afora.Elas têm nome e uma história para contar, cada uma delas.E nostalgia.

Nada mais é do que a saudade da emoção vivida,num determinado momento que passou veloz.Emoções e emoções e ainda tanta emoção a ser vivida!Muito além dos indivíduos, além das particularidades.E todas essas químicas se processando no nosso corpo,pois há quem diga que amor nada mais é do que uma sensação provocada,para evitar a loucura da espécie e perpetuar o predador.Uma ilusão passageira, uma descarga de substâncias certas no sistema.Lubrificação.Cuidados com a máquina.

Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência.Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo.Nunca mais a nostalgia daquele mundo de línguasdançando balé no céu das nossas bocas.Nunca mais!

E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor.Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de ventoque sopra folhas e poeira num arranjo aprumado.Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom.Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência.Assim é que deve ser.

Nunca mais nesta vida quero gente se indo. Já está de bom tamanho.Coração da gente vai absorvendo os golpes:que são muitos e de todos os lados, sempre.Com quase todo mundo é assim.De repente, as pessoas começam a ir embora, por morte matada e morrida,por desamor, por tristeza, por ansiedade, por medos diversos,seu coração vai recebendo as pancadas e uma hora dá vontade de dar um berro,sair vomitando as mágoas todas que a gente foi engolindo.

Nunca mais gente partindo sem motivo aparente,sem dar nome aos bois ou uma denúncia vazia.Nesta vida, nunca mais!

E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar,dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta,a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita.Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusóriae da química do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos íntimos.Nunca mais.

Nunca mais um dia atirado ao nada,nunca mais o verbo que não se completa,todas as palavras que não foram ditas - verdades -, todas elas,uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos,amor costurando o texto,que é linha que não refuga de jeito nenhum.

Nunca mais!O coração se magoando todo o dia,a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendode que é capaz de mudar cada uma das histórias,reescrever o livro das nossas vidas.Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecidose você não tivesse ido àquele lugar, àquela noite,o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor?

Quem é que vai nos explicar?Ninguém. Ou alguém.

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