terça-feira, 21 de setembro de 2010

Capitulo IV.


Uma Floresta Atribulada

Wordz lá parado, à porta da ferraria como se já os esperasse, não intimidou a corajosa Loren, que o encarou diretamente enquanto um trêmulo Markus lhe entregava a espada. O centauro por sua vez recolheu a arma e entregou um saco cheio de moedas ao rapaz quase que o ignorando.

– Não esperava que a espada fosse me trazer também a presença de uma jovem cuja ancestrais as forjaram.

– Tristes acontecimentos me tiraram de minha floresta. Sem historias a contar, estou a procura da Rosa Azul, me diga o que sabe.

– Ah! A também conhecida como flor dos desejos, acredite elfa, muitos já definharam buscando essa lenda. Nem mesmo posso lhe afirmar se é verdadeira.

– Me disseram que sabe como encontrá-la. Tem que me contar, eu preciso.

– O que sei sobre a rosa em nada pode lhe ajudar, – disse o centauro se virando aparentemente para pegar alguma coisa – não vai ser uma busca fácil, vai ter que mexer no passado e muitos podem não aprovar essa idéia. É uma lenda que já atravessa milênios, até onde sei e só uma pessoa chegou perto de encontrar a bela flor. Hoje essa pessoa vive escondida numa floresta, está lá há incontáveis anos. Talvez vá gostar da visita, talvez não. Mas escute com atenção: esteja ciente que muitos já perderam suas vidas buscando tal flor. Quer mesmo fazer isso?

– Se não encontra-lá, definharei do mesmo jeito e perderei minha vida. Não questione minha coragem. Diga, onde posso encontrar essa pessoa?

– Saia de Hal pelo portão sul e dirija-se à oeste, para a floresta. Leve provisões e armas, vai ser uma longa e perigosa viagem. Saiba que tal missão pode lhe custar mais que a sua vida – ele olhou para Markus que não parecia confortável com aquela conversa.

– Espero que não seja de mim que esteja falando centauro! – Markus que até então assistia calado, entra na conversa.

– Sim, aspirante a feiticeiro, você vai descobrir mais sobre você mesmo e sobre este livro que tenta esconder – instintivamente Markus agarrou-se mais firme ao pequeno objeto de capa preta.

– Eu me recordo das histórias na vila que falavam de você… de um centauro – Loren corrigiu-se. – Você pode ficar com a espada, por ora, tenho coisas mais urgentes a resolver.

Um silêncio tenso tomou conta da cena. As pessoas de Hal não passavam perto da ferraria, que ficava quase no bosque lateral ao muro sudoeste da cidade. Quando Wordz estava na porta, passavam sem o olhar. Agora alguns arriscavam olhares afoitos – nunca ninguém falou com o centauro sem abaixar a voz e a cabeça – esperando o momento em que ele esmagaria a elfa imprudente. Ao invés disso, esboçou um leve sorriso. Virou-se sem aviso e entrou em silêncio para sua oficina de metais, sem ser seguido pelos visitantes e carregando consigo a espada.

Loren apressou-se em sair da cidade e chamou Markus. Ele a seguiu sem reclamar, embora soubesse que não poderia se virar sem provisões e afins tão bem quanto a elfa. Era movido pelas palavras do centauro, por gratidão a Loren ou por pura curiosidade. De fato precisava ir com ela. Precisava descobrir o que se escondia na mal falada floresta oeste e uma vez mais, não sentiu medo. O frio que levava no estômago era mais expectativa e curiosidade que qualquer outra coisa.

Ninguém os incomodou, exceto pelos olhares e comentários abafados do tipo “um elfo e um humano juntos”. Não se detiveram e passaram até mesmo pelos guardas sonolentos do portão sul. Em pouco menos de uma hora, a campina amarelada de vegetação baixa, escassa e retorcida já anunciava que daria espaço ao oceano de altas árvores de copas densas que formava a Floresta do Oeste.

Não havia estrada. Os humanos não se atreveram a desbravar essa lendária mata. Mitos recheavam os poucos que dali voltaram. A estrada “oficial” passava longe, à sudoeste. Isso não era problema para Loren e se não o era para ela, também não haveria de ser para Markus – assim pensava o humano.

Como em outros momentos tensos, folheava o velho caderno de seu pai e seguia a elfa o mais rápido que podia. A noite chegou mais rápido e só quando Loren parou sob uma árvore de frutos que Markus desconhecia é que ele se deu conta do quanto havia andado e como doía seus pés cheios de bolhas e suas pernas finas quase sem pelos.

Quando a luz abandonou completamente o dia, os improváveis companheiros de viagem já haviam montado acampamento, que se tratava na verdade apenas de uma fogueira, já que não tinham absolutamente nada para se cobrir durante a noite. Loren não parecia mesmo interessada em uma noite de sono. Mantinha um olhar preocupado, observando tudo que pudesse estar se movendo ao seu redor.

Em pouquíssimo tempo, cansado, Markus foi pego pelo sono. Encostado ao tronco da arvore e abraçado à aquele livro que despertava em Loren certa curiosidade, pois o semi-homem o lia quase que o tempo todo, o que de certa forma Loren gostava, já que mantinha ele ficava em silêncio. Nunca esteve tão longe de casa, tinha medo de que perigos aquela floresta, conhecida pelos elfos por floresta do pesadelo, poderia lhe apresentar.

A escuridão e a companhia muda de Markus, que dormia levaram a mente de Loren pra longe dali, até Alzegrim, onde seu avô esperava seu retorno, onde esperava voltar com a Rosa Azul. Lembrou-se das palavras do centauro, ninguém ainda havia encontrado a Rosa.

A mente te Loren pára de vagar quando ouve passos pesados por perto, lança um olhar ao humano que dorme ignorando qualquer perigo. Os passos se tornam ainda mais pesados e menos distantes.

- Acorde Humano!

Markus resmunga alguma coisa, vira pro outro lado e continua a dormir. Inútil! – pensa Loren – já com o arco armado enquanto a criatura vai se aproximando e tomando forma. Os tremores agora fortes fazem Markus despertar a tempo de ver o maior troll que sua curta vida humana permitiria. Tinha cerca de três metros, era absurdamente gordo e carregava nada menos que um tronco de árvore que brandia ameaçadoramente para os dois.

Enquanto esperava o ataque, Loren observava o monstro detalhadamente, mania que tinha em combate – apesar de muito sujo, a criatura era bem branca, dona de braços absurdamente longos e fortes. Vestia um farrapo de couro de algum animal grande e carregava a arma na mão direita, com quatro dedos sujos e grossos de base.

Os pés chatos feridos da criatura deram impulso ao ataque, desferindo com a clava improvisada um golpe vertical, que ela desviou em um salto lateral. Por sorte Markus estava do outro lado – não sabia se ele podia evitar esse ataque tão fácil.

As duas primeiras flechas da elfa saíram muito rápido e viajaram quase juntas, atingindo em cheio o peito do troll, o que só serviu pra deixá-lo mais irritado. A pele era dura como a madeira com a qual ele fez um ataque mais “esperto”, batendo dessa vez na horizontal, na altura do abdome de Loren, no entanto sem velocidade para atingi-la. Esquivou se abaixando e rolando – por sorte a criatura não era muito esperta.

Markus pulou para trás, pois o segundo ataque quase o atingira, mesmo não estando perto de Loren e caiu sentado no chão. O monstro deu um passo para atingir a moça que, ainda no chão, desferiu uma flecha certeira, que viajou rápida e o atingiu por baixo do queixo. Girou para se levantar e tomou um baque surdo da madeira, que o troll agitava desgovernadamente, atingido em uma parte sensível. Ela levantou-se dolorida, sem dificuldade e sem sangrar – o que mostrava sua “fragilidade élfica” – e gritou para Markus:

– Mantenha-se longe e abrigue-se nas árvores! – O humano a obedeceu e, apesar do estardalhaço furioso, o gigantesco troll tombou entre espasmos e urros. Em poucos minutos estava imóvel e os dois tiveram que mudar o acampamento, para que o sangue da criatura não atraísse mais problemas.

Markus ficava a cada minuto mais abismado com a força da Elfa. Não é todo dia que alguém derrota um Troll sem tanta dificuldade. Devia haver algum motivo muito forte pra ela ir tão longe por sua busca.

– Porque procura tal rosa? – pergunta Markus reunindo mais coragem do que acreditava ter.

– Esse caderno que sempre carrega, deve lhe fazer recordar de alguém importante, não? – Loren responde com uma voz inesperadamente suave – se para você que é mortal é ruim, imagine viver a eternidade sem … – não teve tempo de terminar de explicar seus motivos: uma voz cortante e fria a interrompeu e ao mesmo tempo em que se virou e viu de quem se tratava, seu coração élfico gelou.

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