quinta-feira, 26 de novembro de 2009


Naquele dia, o sono foi mais curto que o habitual. Às 6 horas da manhã, eu já caminhava sozinha em meio às ruas desprovidas de movimento, sem destino preciso. O importante era andar, em qualquer direção, como forma de distrair os pensamentos tolos que se sucediam em minha mente.

Nas vias públicas havia poucos carros, porém muitos pássaros ecoando sons ritmados e constantes. A cidade se preparava para despertar mais uma segunda-feira.

Na esquina da Avenida Oscilante com a Rua dos Cataventos, a brisa matutina tocou meu rosto levemente. Senti-me viva. Um sentimento pleno de integração com o Universo. Parei por um minuto, fechei os olhos e fiz uma oração silenciosa pedindo tranquilidade e paz.

Inconscientemente, era uma forma de tentar deixar de lado pensamentos tolos que insistiam em me remoer. Dobrei na Rua dos Cataventos e segui caminhando até a Travessa das Dores. Parei, firmei por um instante os olhos na placa da rua, e preferi continuar meu caminho pela Rua dos Cataventos.

Mais à frente, entrei na Rua da Esfinge. Do lado esquerdo, uma uniforme sequência de antigos casarões. Do outro lado, prédios novos, cujos formatos variados e multicoloridos davam a impressão de desordem.

Para atenuar a má operação do meu cérebro, fixei-me a pensar sobre a origem do nome do local onde estava. Lembrei que na mitologia a esfinge representa um monstro fabuloso, com cabeça humana e corpo de leão, que propunha enigmas aos viajantes, devorando-os se não os decifrassem.

Às 7 horas, eu não estava mais sozinha em minha andança. Um cão preto, de focinho extenso e orelhas caídas, cuja raça desconheço, fazia-me companhia. Por meio de seus latidos e expressões corporais, o cachorro conseguia distrair-me e demonstrava carência e fome.

Na Rua da Santa Ceia, comprei um quilo de mortadela para dar ao cão. Obediente, ele permaneceu na calçada enquanto eu realizava a troca comercial. Depois de satisfeito, o animal agradeceu-me com uma lambida e se foi.

Mais uma vez só, voltei para casa, porém com ânimo renovado. Ainda foi possível tomar um banho, trocar de roupa e chegar ao trabalho sem atraso. Às 8 horas, o cartão-ponto registrava minha chegada à empresa.

Lá, enquanto sorvia o primeiro cafezinho do dia, reconstituí mentalmente cada passo da caminhada de minutos antes. Nisso, já nem lembrava dos pensamentos tolos que se sucediam em minha mente quando acordei.


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